Da emancipação intelectual ao pensamento radical: genealogia de um paradigma crítico

Resumo

O pensamento contábil crítico surge como uma necessidade imperativa de repensar a contabilidade para além de sua função técnica, reconhecendo-a como uma prática com profundas implicações sociais, éticas e políticas. Esse paradigma questiona a suposta neutralidade da linguagem contábil, mostrando que toda decisão e omissão tem consequências materiais e simbólicas que afetam indivíduos, organizações e estruturas sociais. Assim, o papel do contador deve transcender a esfera técnica para se tornar um agente ativo de mudança comprometido com a justiça social e a sustentabilidade. No entanto, a transformação não pode se limitar à crítica destrutiva; é indispensável uma reconstrução estratégica que traduza a teoria em uma prática eficaz, conforme proposto pela “contabilidade intermediária”, que equilibra a crítica radical com a viabilidade institucional. Apesar da resistência persistente nos sistemas educacionais e institucionais, que mantêm modelos tradicionais e tecnocráticos, a consolidação de comunidades acadêmicas e profissionais críticas é essencial para avançar em direção a uma contabilidade mais ética e engajada. A pluralidade de abordagens dentro do pensamento crítico - ambiental, feminista, decolonial, marxista - não fragmenta, mas enriquece a disciplina, abrindo caminho para uma epistemologia diversificada e contextualizada que questiona a lucratividade para focar na equidade, na dignidade humana e no cuidado com o planeta. Em suma, a contabilidade deve ser assumida como uma prática social complexa e política que exige uma mudança de consciência para enfrentar os desafios contemporâneos, contribuindo para a construção de organizações e sociedades mais justas e sustentáveis.